O Caminho do Guerreiro

Matéria publicada originalmente no Jornal da Montanha, edição #5 (jun e jul/2011)
Por: Daniel Juliano Casas



O CAMINHO DO GUERREIRO


Você já se deparou com uma situação desse tipo?
Fez uma costura, continuou escalando, apareceram uns movimentos difíceis e de repente acabaram as agarras! O coração acelerou, olhou pra todos os lados rapidamente e nada. Olhou pra baixo, viu a costura e imaginou a queda. Então pensou: e agora?

Wofgang Güllich escalador alemão e precursor do “free climb” uma vez colocou que: “em uma escalada o cérebro é o músculo mais importante”. Essa analogia, feita por esse ícone da escalada mundial, é considerada uma máxima na busca pela motivação na escalada. Apesar do cérebro não ser um músculo é com certeza uma peça fundamental nesse jogo vertical.

Arno Iigner em seu livro The Rock Warrior’s Way coloca uma série de dicas e treinamentos para essa “evolução mental” objetivando melhorar a performance em montanhas, falésias e competições.

Ele separa o aprendizado em sete passos: tomar consciência, a vida é sutil, aceitar a responsabilidade, dar, escolher, escutar e a viagem. Cada uma dessas etapas se complementa e forma o “Caminho do Guerreiro”.

Tomar consciência: O primeiro passo consiste em melhorar a capacidade de observação sobre si mesmo e examinar os aspectos limitadores do seu modo de pensar e agir. É o processo para melhorar o controle mental, desenvolver uma imagem poderosa, aumentar a confiança e fortalecer o poder pessoal. A palavra chave nesse passo é observar.

A vida é sutil: A atenção é atingida e focalizada. Dirige a mente para as sensações do corpo (respiração, postura, etc.). Mantém um diálogo interno intencional no lugar de se deixar levar pelas armadilhas da mente. Esse passo trata de aproveitar esse conhecimento e modelar conscientemente para que o corpo e a mente sejam uma unidade eficaz e poderosa. A palavra chave desse processo é centrar.

Aceitar a responsabilidade: O foco desse passo é assumir integralmente a responsabilidade, sem desculpas, querer que seja diferente ou que apareça uma solução mágica. Deve-se aceitar e ser objetivo com as informações a respeito do risco assumido. Se aceita a dificuldade como algo natural e normal, criando assim uma oportunidade de êxito.

Dar: Aqui se adota uma atitude de poder. No lugar de: o que vou ganhar se tiver êxito? Pergunta-se o que posso oferecer a essa atividade. Sentir a experiência independente do resultado. Focar a atenção nas opções e possibilidades. Nesse processo se coleta a informação subjetiva sobre o risco e o aceita.

Escolher: Essa é a fase de transição, o momento da verdade.  Pode escolher dirigir a atenção fora do risco ou até ele. Desistir de assumir o risco não é um fracasso. Muitos riscos são realmente temerários e assumi-los pode acabar com você. A chave para esse passo do guerreiro é ser totalmente decidido, se a decisão for voltar, o faça sem receios. Agora a decisão é ir em frente, vai com todo o seu poder, sem olhar para trás.

Escutar: Esse passo ajuda a enfrentar o risco, a manter-se no rumo, no risco, em vez de cair em uma situação que disperse a atenção e roube o poder. Esse momento se encontra na ação, no desconhecido, a ideia é aprender. Escutar a situação e a via facilita o processo de aprendizagem. Esse é um passo bem intuitivo, requer prática. A palavra chave é confiar. Liberta teu consciente e confia no processo.

A viagem: Uma vez no risco, concentra-se na viagem e não no destino. Quando se encontra na tensão, o desejo é sair o mais rápido possível dessa situação, mas a ideia é estar bem preparado para enfrentar essa situação estressante que é exatamente o motivo de se viver isso. Manter uma mentalidade de “viagem” ajuda a dirigir a atenção no processo da escalada, no lugar de deixar que a concentração se divague até o destino ou numa forma de pensar limitada que não ajuda a solucionar os problemas nem a aprender. A palavra chave é atenção, viver o momento presente e usufruir da experiência.

As dicas acima compõem o programa criado por Iigner em seu livro, no qual ele aprofunda essas ideias e cria exercícios mentais a fim de aprimorar a capacidade mental do escalador.

Sendo assim, para um escalador, independente do nível técnico, tão importante quanto o treinamento físico é o aprimoramento mental, indispensável para a evolução. Então, utilizar-se de treinamentos e práticas a fim de desenvolver esse potencial é de grande valia pra enfrentar os desafios.

Fonte: Arno Iigner The Rock Warrior’s Way.



Daniel Juliano Casas: Praticante assíduo de montanhismo desde 1988. Faz parte do Corpo de Guias da Salamandra Escola de Montanha, sócio fundador da Associação Joinvilense de Montanhismo. Apoio: Hard Adventure e Resseg Ecologia e Aventura.