28 de setembro de 2014

Pontões Capixabas




Ao iniciar o relato sobre essa viagem aos Pontões Capixabas, fico imaginando o grupo de escaladores, lá no ano de 1959 quando avistaram essas montanhas pela primeira vez. 
É surreal sair de um relevo monótono pouco acidentado e de repente, no virar de uma curva, dar de frente com essas montanhas.

Chegando em Pancas
Na época, o grupo composto por Giuseppe Pellegrini, Nélson Teixeira, Emil Mesquita, Carlos Russo e Rodolpho Kern subiram a Pedra Agulha e inauguraram a escalada técnica na região. A conquista da Chaminé Brasilia com 450 metros, foi um marco para a escalada brasileira e até hoje é considerada uma escalada desafiadora.

Pedra Agulha e seu sistema de fendas e chaminés.

A sensação deles deve ter sido parecida com a minha e de Izabela, quando depois de rodar 1.700 km desde Joinville, vimos as primeiras montanhas dessa região, foi difícil manter a concentração no volante. Já sabia que iria ver muita pedra, tinha visto fotos, vídeos, porém ao vivo foi realmente marcante.
Nosso objetivo e motivação era semelhante ao grupo de 59, queríamos subir algo novo, uma nova via!

Da esquerda pra direta, Pedra Cará, Garrafão e Pontão.
As montanhas de granito do Monumento Natural dos Pontões Capixabas, ficam localizadas nos municípios de Pancas e Águia Branca. Apesar da escalada estar presente a muito tempo na região foi nos últimos anos que surgiram a maioria das vias e ainda há muito o que abrir de falésias a cumes virgens.

Pedra Cará e o Camelo vistos do alto da Colina.
Pedra do Garrafão, visto da área de camping. Ainda sem vias de escalada!
Passamos 3 semanas escalando na região e montamos nossa base no Cantinho do Céu, um sítio localizado no Córrego Palmital, cercado de montanhas e preparado para receber escaladores. O local é administrado por Fabinho Eggert, que além de grande conhecedor local, sabe todas as dicas da escalada da região.

Área de camping do sítio Cantinho do Céu, sombra, água fresca e rodeado de montanhas.


Para nos adaptarmos a rocha e conhecer o estilo local, primeiramente escalamos algumas vias das muitas paredes que nos cercavam. São várias as opções de escaladas e sua maioria com mais 300 metros.
O acesso as paredes é muito fácil, algumas com aproximações de 5 minutos de caminhada e outras subindo por costões de rocha com pouca inclinação.


IzaBela iniciando a escalada na Pedra do Córrego.
Os dias de descanso foram destinados a reconhecimento de paredes inexploradas na região e também para aproveitar a rede na sombra do jambeiro, a ver e ouvir macacos, tucanos, laçaris e se hidratar com muita água de coco, pois o clima é bem seco e o sol "póca" com dizem os locais.


As vias da região são predominantemente de aderência e seguem linhas naturais mais positivas das paredes. São raras as fendas limpas e paredes verticais com agarras. O padrão de proteção é um pouco exposto, no início rola uma pressão psicológica, mas logo ao se adaptar com a textura da rocha a escalada fica mais descomprometida e prazerosa.

Escalada da via Presente de Águia (350 m) na Pedra do Jacaré.

Cume da Pedra da Boca, após a escalada da via Amigo Imaginário.

Aproveitando no final de semana que estava acontecendo o 8. Encontro Capixaba de Escalada, fomos a Águia Branca para conhecer as montanhas do lado de lá e participar do evento para nos enturmamos com a galera local.
Foi muito divertido e as escaladas foram incríveis. O formato já convencional desses encontros com palestras, oficinas e confraternizações além de escalada, funcionou muito bem, destaque pra palestra feita por Sandro Souza sobre o acesso as montanhas e como o  contato com os proprietários da região, foi muito pertinente e interessante.

Escalada da via Olhar do Junior (450m) com o símbolo de Águia Branca ao fundo, os 3 Pontões
3 Pontões de Águia Branca.
Um dos locais que mais me agradou, em Águia Branca, foi o vale da Pedra da Coruja, montanhas incríveis e bem grandes, localizadas em um vale menos detonado pelas lavouras de café e similares.

Pedra da Coruja

Via Entre Idas e Vindas (350m) na Pedra do Nei.


Pedra Cará e o céu de Pancas

Na última semana, com a chegada de Alexandre para juntar-se ao time, partimos para escolher uma parede e abrir uma via. O tanto de pedras, com múltiplas possibilidades, quase nos deixou loucos e foi difícil escolher entre o que nos apetecia. 


Uma das muitas paradas de reconhecimento.
Muitas linhas nos interessavam, porém dispúnhamos de pouco tempo e uma previsão de entrada de uma frente fria nos obriga a escolher uma linha que pudesse ser escalada rapidamente. Acabamos por escolher a Pedra do Corrégo, já havia feito uma via na mesma parede e observado que tinha uma característica diferente das outras que havíamos escalado, não era aderência e sim uma linha com bastante agarras e segundo escaladores locais, raridade na região.


Partindo para a base. 
A estratégia da conquista era simples, subir até onde conseguíssemos no dia, fixar as cordas e descer para dormir na barraca. Iniciei a escalada e abri a primeira cordada e assim fomos revezando cada um abrindo uma cordada na faixa de 50 a 60 metros. A linha escolhida era bem promissora e nossa suspeita se mostrou real, seguimos um veio de cristais na rocha com muitas agarras.

Tirando os pés do chão.

Alexandre iniciando a sexta cordada seguindo pelo veio de cristais.
No primeiro dia abrimos 4 cordadas, aproximadamente 200 metros, fixamos as cordas e descemos para continuar até o cume no dia seguinte. 



Visual da parede, ao fundo as montanhas de Águia Branca.

IzaBela sempre atenta na segurança
Dando segurança da P6 quase no cume.

Finalizamos a via e a batizamos de Paredão Lubrina, o grau sugerido é D2 4. VI E2 com 350 metros. É uma escalada bem interessante e desfrutável, haja visto que tem poucos esticões entre as proteções e é predominantemente com agarras, com eventuais lances de aderência. O veio de cristais que sobe a linha é um detalhe a parte que faz com que a escalada tenha um charme especial.

Cumeeeee
Croqui da via. O mesmo está disponível no catálogo das vias de Pancas no sítio Cantinho do Céu.

As experiencias nessas montanhas se mostraram extremamente interessantes e nos deixou com uma certeza, a de voltar em breve. São muitas as possibilidades de montanhas que aliadas a um clima seco, por vezes um pouco quente, fácil acesso com cumes e paredes inexploradas, vale sem dúvida uma visita para abrir novas vias.




APOIO: Resseg Ecologia e Aventura, Hard Adventure, Ramps, Jurapê Equipamentos para Aventura, Núcleo Mutuca e Salamandra Escola de Montanha.

7 de setembro de 2014

Edição de Aniversário



OS ANOS INOCENTES

Uma primeira vez é sempre marcada de incertezas, expectativas e muita ansiedade, ainda mais para um adolescente. 
Quando saí para minha primeira ida a montanha, para escalar o Castelo dos Bugres em alguma data perdida no inverno de 1988, mal sabia que isso daria rumo a minha vida. Já de cara saquei o mundo de possibilidades e aprendizados que as montanhas tinham a oferecer.

Castelo dos Bugres - Serra do Mar - Joinville/SC
Durante os invernos seguintes, escalei na companhia de outros amigos escoteiros sistematicamente as principais montanhas da região, Pico Jurapê, Monte Crista, Morro da Tromba, Morro Pelado, Marumbi, entre muitas outras menos populares.

Naturalmente, logo estávamos praticando escaladas mais comprometidas, ainda que com muito improviso e criatividade. 
Ainda na fase do colégio, um amigo de turma, que também estava subindo montanhas conosco, comprou a muito custo o Manual do Montanhista de Cristiano Requião, com esse livro em mãos estudamos e começamos a praticar com afinco as técnicas para escalada em rocha. 

O MARCO

Foi então que em 1994, caiu em minhas mãos o Informativo Mountain Voices, com uma propaganda do Curso Básico de Escalada em Rocha promovido pela Montanhismus.

Durante o feriado feriado de 7 de setembro desse mesmo ano, junto com Luciano Sampaio e Djorgian Day parti em direção a Pedra do Baú em São Bento do Sapucaí/SP, para enfim concretizar o aprendizado dos primeiros passos.

Aula 1 do Curso Básico de Escalada em Rocha - set/94

SEMPRE APRENDER

Hoje, a exatos 20 anos do curso, minha motivação em aprender a escalar segue forte e autêntica. Sigo a subir freneticamente pelas pedras e montanhas que vou encontrando em meu trilhar. 

Sei que muito tenho ainda a aprender, e a cada nova escalada, vou adquirindo mais experiências e assim lapidando minha forma de ver, sentir e escalar a vida.

Me dedico a profissão de ensinar a escalar montanhas, pois entendo que além das "horas/rocha" passadas nas montanhas é compartilhando nosso conhecimento que firmamos nosso aprendizado.

350 metros de uma de nova via na Pedra do Córrego, em Pancas no Espírito Santo.
Cume Pedra do Córrego, Pancas/ES com Alexandre e Izabela, setembro/2014

GRATIDÃO

Nesses anos todos tive muitos mestres que facilitaram meu desenvolvimento, todos foram importantes em seu momento, alguns merecem destaque:
Robson Pires por me emprestar o Manual do Montanhista, Eliseu Frechou pelas primeiras aulas, Ronaldo "Nativo" Franzen pelo legado deixado em São Chico e por abrir as portas do Marumbi, Bito Meyer pelas vias deixadas no Morro da Cruz/SFS onde pude forjar meu estilo, aos parceiros Reginaldo Carvalho, Edmilson Ávila, Edu Pedro e Luana Hudler que sempre estiveram e seguem estando presente nas grandes roubadas e aos meus pais que sempre me apoiaram.

Agradeço também a todos aqueles montanhistas que antes de mim, deixaram seus ensinamentos e rumos, para que possamos seguir a empurrar nossos limites e desenvolver a arte de viver pelas montanhas!!!


Muito Obrigado.