Escalar essas montanhas é buscar mais que um cume, é uma oportunidade de ir ao encontro do equilíbrio físico e mental, conectar ao momento presente e por fim viver nossos sonhos.
Pico Maior ao centro, picos Menor e Médio a esquerda e Capacete a direita |
Um dos principais centros de escalada em grandes paredes do Brasil é com certeza o conjunto de montanhas do Parque Estadual dos Três Picos, em Nova Friburgo/RJ, ou simplesmente Salinas. Foram nessas paredes, onde escaladores como Tartari, Portela, Hartmann, entre outros, forjaram um estilo de escalada arrojada e moderna, buscando sempre uma escalada limpa, minimizando os pontos de apoio, empurrando o limite vigente e dando novas referências para o montanhismo brasileiro.
Subir por essas paredes é "beber da fonte" da escalada tradicional brasileira, montanhas de rocha nua, metros e metros de escalada, técnicas variadas, cumes onde não se chega andando.
Pico Maior |
Os Picos Maior, Menor e Médio junto com Capacete e a Caixa de Fósforos, são as montanhas mais frequentadas da região e onde se concentram o maior número de vias.
Nas palavras de Portela "Tem de tudo. Nem pra todos. Tem bloco e falésia, parede pequena e grande. Fácil, difícil e imponente. De rocha pura ou com muita vida e sempre com muita aventura."
Vias com 10 ou mais cordadas são comuns, a rocha predominante é um granito/gnaisse de excelente textura, sólido e aderente. Uma das principais características do local é a distância entre as proteções, lances longos sem ver o próximo grampo são comuns. A grande maioria das vias possui o grau de exposição E3 ou maior, ou seja, escaladas com certo comprometimento, onde uma queda pode gerar um acidente. Porém devido a qualidade da rocha esse "detalhe" pode até passar despercebido depois que se acostuma ao estilo.
Nas palavras de Portela "Tem de tudo. Nem pra todos. Tem bloco e falésia, parede pequena e grande. Fácil, difícil e imponente. De rocha pura ou com muita vida e sempre com muita aventura."
Vias com 10 ou mais cordadas são comuns, a rocha predominante é um granito/gnaisse de excelente textura, sólido e aderente. Uma das principais características do local é a distância entre as proteções, lances longos sem ver o próximo grampo são comuns. A grande maioria das vias possui o grau de exposição E3 ou maior, ou seja, escaladas com certo comprometimento, onde uma queda pode gerar um acidente. Porém devido a qualidade da rocha esse "detalhe" pode até passar despercebido depois que se acostuma ao estilo.
Um "mar de granito" com suas infinitas possibilidades de subida. |
Filipe Rochi na parte alta da via Fata Morgana no Capacete |
Essa foi uma viagem de última hora, não estava nos meus planos pra temporada, porém era um destino que sempre tive vontade de voltar, para aprender e me testar.
Em outra ocasião já havia subido o Pico Maior pelas vias Leste e Decadence, ainda lembro do contraste que foram essas duas escaladas - aventura plena e puro desfrute - tínhamos pouca informação e nunca escalado nessas montanhas. A primeira foi a Leste, entramos apreensivos e focados, já de cara sentimos na pele o estilo arrojado dessas paredes, choveu nas últimas cordadas e mesmo assim seguimos adiante, fizemos cume e sem perder tempo achamos os rapeis com visibilidade mínima, com forte chuva chegamos de dia e felizes ao acampamento.
Dias de descanso e foi a vez da Decadence, na mesma face e praticamente o mesmo tamanho da Leste, 700 metros de "pura roca". A escalada foi puro desfrute em um dia de sol e sem vento. Já habituados ao estilo, fomos rápidos, subimos parte da via em simultâneo. Em 5 horas já estávamos sobre as pedras do cume aproveitando o sol, sentindo o vento e tentando entender, junto ao turbilhão de emoções que invadem nossas mentes, as motivações que nos levam a momentos tão plenos.
Dias de descanso e foi a vez da Decadence, na mesma face e praticamente o mesmo tamanho da Leste, 700 metros de "pura roca". A escalada foi puro desfrute em um dia de sol e sem vento. Já habituados ao estilo, fomos rápidos, subimos parte da via em simultâneo. Em 5 horas já estávamos sobre as pedras do cume aproveitando o sol, sentindo o vento e tentando entender, junto ao turbilhão de emoções que invadem nossas mentes, as motivações que nos levam a momentos tão plenos.
A vida segue e me leva mais uma vez onde quero estar: aos pés da parede mirando a linha da próxima aventura. A "bola da vez" seria a via Arco da Velha (D4 6. VIIa E3). Sinto um irresistível magnetismo em testar minhas qualidades como montanhista em uma parede tão imponente e por uma via que quebrou paradigmas em seu tempo!
Face norte do Capacete e Pico Maior a esquerda. |
Com Reginaldo e Urbano subi a via El Kabong (D3 5. VI E2 450m), uma boa escalada que fica mais interessante após as três primeiras cordadas, onde a parede fica mais vertical. Boa para entrar no ritmo e se adaptar a rocha sem se expor demais. Depois foi a vez dos 400 metros da Sólidas Ilusões (D3 5° VI+E3), uma clássica e super bem recomendada. Uma cordada melhor que a outra, técnicas variadas mesclando proteções fixas e móveis. É boa para "entrar no clima" e começar a se acostumar com lances menos protegidos.
Urbano nas últimas cordadas da via Pança do Mamute onde a Kabong se junta. |
Caon no final da Sólidas, lá embaixo no descampado a área de camping |
Entrando do diedro da 3. cordada da via Sólidas Ilusões |
Um dia de descanso pelo vale pra ficar de preguiça, aproveitar o sol e se preparar pra escalada. O corpo relaxa, mas a mente cada vez mais ansiosa com o passar das horas. Ronchi e Regi estão na Leste, vamos a um mirante e acompanhamos os últimos metros da escalada, pequenos pontos perdidos no granito. Em pouco tempo pisaram no cume e pudemos escutar seus gritos ao longe e sentir a vibração positiva. Nessa hora do dia o vento já tinha mudado de direção e soprava com força, trazendo muitas nuvens, o tempo parecia virar.
Acordamos as 4 da manhã, noite estrelada, um rápido café e sob as luzes de nossas lanternas frontais, seguimos a passos decididos nosso caminho. Chegamos na base clareando o dia e quando o sol surgiu no horizonte já estávamos avançando na primeira parte da via, mais fácil e positiva.
Acordamos as 4 da manhã, noite estrelada, um rápido café e sob as luzes de nossas lanternas frontais, seguimos a passos decididos nosso caminho. Chegamos na base clareando o dia e quando o sol surgiu no horizonte já estávamos avançando na primeira parte da via, mais fácil e positiva.
Minutos antes do sol despontar no horizonte |
Tocando na parede junto com os primeiros raios de sol. |
O tempo ainda parecia suspeito no começo da manhã, mas com o avançar do dia e a medida que ganhávamos altura foi se estabilizando e seguiu perfeito, com temperatura agradável e pouco vento.
Na segunda parte da via, a parede ganha verticalidade e mostra todo seu encanto, boas agarras e lances longos com poucas possibilidades de colocações móveis. Frito minha cabeça, mantenho o foco e me divirto na busca pelo melhor caminho. Como as proteções são distantes e as possibilidades de caminhos muitas, achar a sequência de agarras certas que me levarão a um "porto seguro" é a parte mais difícil e também a mais interessante. Ir passo a passo, com cautela pra não entrar em "xeque mate" impossibilitando a subida ou a descida, faz com que meus sentidos mantenham-se atentos. Sigo em uma mistura de transe e êxtase, me equilibrando na vertical, meus pensamentos voltados exclusivamente para o momento presente, focado em resolver cada passada com maestria. O tempo parece parar.
Rafael Caon iniciando a 4. cordada. |
Urbano liderando a 8. cordada. |
Nosso ritmo é bom e logo chegamos em uma cordada chave, que consiste em um teto com agarras. Um lance de VI, mas o número é apenas um parâmetro e não representa a real dificuldade em fazer a passada. Lá no alto da parede, protegido com pequenas peças, sentindo o vazio, tudo fica mais complexo. Demoro um tanto pra passar o lance, vou e volto, negociando com as agarras, enfim decido e com atitude escalo sem medo. Mais alguns metros e melhor protegido sigo até a corda praticamente acabar e monto a parada.
10. cordada da via Arco da Velha |
Desse ponto em diante sabemos que estamos com o jogo praticamente ganho, faltam apenas 4 cordadas e então baixamos o ritmo, um tanto pelo cansaço e um pouco para desfrutar dessa bela escalada. Mas a montanha não perde verticalidade e precisamos seguir apertando com força e pisando certo nas agarras. Na parte final juntamos na Decadence e seguimos por ela até o cume em tempo de apreciar o por do sol.
Tão raro esses momentos de cume, sensações que não podem ser racionalizadas, muito menos descritas, devem ser experimentadas.
Cume Pico Maior |
Não nos demoramos muito no cume e logo partimos em busca da descida. Saio abrindo os rapeis, e um a um vamos perdendo altura e nos aproximando do colo com o Capacete. Já é noite escura e no último rapel me perco e acabado entrando em uma grota, ao menos estava no chão. Meus parceiros, sem muita escolha me seguem, traço uma linha reta e rasgamos o mato até achar a trilha que nos leva pra junto do calor do fogão a lenha.
"...no meio da pedra tinha um caminho..." Via Arco da Velha |
Os dias vão passando rápido, amigos chegando e outros indo, cada qual com seus objetivos. O tempo segue firme e após algum descanso, trivialidades, ócios e devaneios a motivação volta. Ainda subimos as vias Fata Morgana e Roberta Groba no Capacete, pra encerrar essa rica temporada!
Aos amigos com quem pude compartilhar esses dias na montanha, muito obrigado!
Cume do Capacete |
2 comentários:
JAMAICA STILEEEEEEEEE.
Valeu irmão.
Belo relato, obrigado por compartilhar!
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