Ao iniciar o relato sobre essa viagem aos Pontões Capixabas, fico imaginando o grupo de escaladores, lá no ano de 1959 quando avistaram essas montanhas pela primeira vez.
É surreal sair de um relevo monótono pouco acidentado e de repente, no virar de uma curva, dar de frente com essas montanhas.
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Chegando em Pancas |
Na época, o grupo composto por Giuseppe Pellegrini, Nélson Teixeira, Emil Mesquita, Carlos Russo e Rodolpho Kern subiram a Pedra Agulha e inauguraram a escalada técnica na região. A conquista da Chaminé Brasilia com 450 metros, foi um marco para a escalada brasileira e até hoje é considerada uma escalada desafiadora.
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Pedra Agulha e seu sistema de fendas e chaminés. |
A sensação deles deve ter sido parecida com a minha e de Izabela, quando depois de rodar 1.700 km desde Joinville, vimos as primeiras montanhas dessa região, foi difícil manter a concentração no volante. Já sabia que iria ver muita pedra, tinha visto fotos, vídeos, porém ao vivo foi realmente marcante.
Nosso objetivo e motivação era semelhante ao grupo de 59, queríamos subir algo novo, uma nova via!
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Da esquerda pra direta, Pedra Cará, Garrafão e Pontão. |
As montanhas de granito do Monumento Natural dos Pontões Capixabas, ficam localizadas nos municípios de Pancas e Águia Branca. Apesar da escalada estar presente a muito tempo na região foi nos últimos anos que surgiram a maioria das vias e ainda há muito o que abrir de falésias a cumes virgens.
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Pedra Cará e o Camelo vistos do alto da Colina. |
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Pedra do Garrafão, visto da área de camping. Ainda sem vias de escalada! |
Passamos 3 semanas escalando na região e montamos nossa base no Cantinho do Céu, um sítio localizado no Córrego Palmital, cercado de montanhas e preparado para receber escaladores. O local é administrado por Fabinho Eggert, que além de grande conhecedor local, sabe todas as dicas da escalada da região.
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Área de camping do sítio Cantinho do Céu, sombra, água fresca e rodeado de montanhas. |
Para nos adaptarmos a rocha e conhecer o estilo local, primeiramente escalamos algumas vias das muitas paredes que nos cercavam. São várias as opções de escaladas e sua maioria com mais 300 metros.
O acesso as paredes é muito fácil, algumas com aproximações de 5 minutos de caminhada e outras subindo por costões de rocha com pouca inclinação.
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IzaBela iniciando a escalada na Pedra do Córrego.
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Os dias de descanso foram destinados a reconhecimento de paredes inexploradas na região e também para aproveitar a rede na sombra do jambeiro, a ver e ouvir macacos, tucanos, laçaris e se hidratar com muita água de coco, pois o clima é bem seco e o sol "póca" com dizem os locais.
As vias da região são predominantemente de aderência e seguem linhas naturais mais positivas das paredes. São raras as fendas limpas e paredes verticais com agarras. O padrão de proteção é um pouco exposto, no início rola uma pressão psicológica, mas logo ao se adaptar com a textura da rocha a escalada fica mais descomprometida e prazerosa.
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Escalada da via Presente de Águia (350 m) na Pedra do Jacaré. |
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Cume da Pedra da Boca, após a escalada da via Amigo Imaginário. |
Aproveitando no final de semana que estava acontecendo o 8. Encontro Capixaba de Escalada, fomos a Águia Branca para conhecer as montanhas do lado de lá e participar do evento para nos enturmamos com a galera local.
Foi muito divertido e as escaladas foram incríveis. O formato já convencional desses encontros com palestras, oficinas e confraternizações além de escalada, funcionou muito bem, destaque pra palestra feita por Sandro Souza sobre o acesso as montanhas e como o contato com os proprietários da região, foi muito pertinente e interessante.
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Escalada da via Olhar do Junior (450m) com o símbolo de Águia Branca ao fundo, os 3 Pontões |
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3 Pontões de Águia Branca. |
Um dos locais que mais me agradou, em Águia Branca, foi o vale da Pedra da Coruja, montanhas incríveis e bem grandes, localizadas em um vale menos detonado pelas lavouras de café e similares.
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Pedra da Coruja |
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Via Entre Idas e Vindas (350m) na Pedra do Nei. |
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Pedra Cará e o céu de Pancas |
Na última semana, com a chegada de Alexandre para juntar-se ao time, partimos para escolher uma parede e abrir uma via. O tanto de pedras, com múltiplas possibilidades, quase nos deixou loucos e foi difícil escolher entre o que nos apetecia.
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Uma das muitas paradas de reconhecimento. |
Muitas linhas nos interessavam, porém dispúnhamos de pouco tempo e uma previsão de entrada de uma frente fria nos obriga a escolher uma linha que pudesse ser escalada rapidamente. Acabamos por escolher a Pedra do Corrégo, já havia feito uma via na mesma parede e observado que tinha uma característica diferente das outras que havíamos escalado, não era aderência e sim uma linha com bastante agarras e segundo escaladores locais, raridade na região.
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Partindo para a base. |
A estratégia da conquista era simples, subir até onde conseguíssemos no dia, fixar as cordas e descer para dormir na barraca. Iniciei a escalada e abri a primeira cordada e assim fomos revezando cada um abrindo uma cordada na faixa de 50 a 60 metros. A linha escolhida era bem promissora e nossa suspeita se mostrou real, seguimos um veio de cristais na rocha com muitas agarras.
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Tirando os pés do chão. |
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Alexandre iniciando a sexta cordada seguindo pelo veio de cristais. |
No primeiro dia abrimos 4 cordadas, aproximadamente 200 metros, fixamos as cordas e descemos para continuar até o cume no dia seguinte.
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Visual da parede, ao fundo as montanhas de Águia Branca. |
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IzaBela sempre atenta na segurança |
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Dando segurança da P6 quase no cume. |
Finalizamos a via e a batizamos de Paredão Lubrina, o grau sugerido é D2 4. VI E2 com 350 metros. É uma escalada bem interessante e desfrutável, haja visto que tem poucos esticões entre as proteções e é predominantemente com agarras, com eventuais lances de aderência. O veio de cristais que sobe a linha é um detalhe a parte que faz com que a escalada tenha um charme especial.
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Cumeeeee |
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Croqui da via. O mesmo está disponível no catálogo das vias de Pancas no sítio Cantinho do Céu. |
As experiencias nessas montanhas se mostraram extremamente interessantes e nos deixou com uma certeza, a de voltar em breve. São muitas as possibilidades de montanhas que aliadas a um clima seco, por vezes um pouco quente, fácil acesso com cumes e paredes inexploradas, vale sem dúvida uma visita para abrir novas vias.
APOIO: Resseg Ecologia e Aventura, Hard Adventure, Ramps, Jurapê Equipamentos para Aventura, Núcleo Mutuca e Salamandra Escola de Montanha.
2 comentários:
Que belezaaaaaa!
Show hein, Deu uma bela vontade de visitar esse local e escalar ai. A foto das montanhas na estrada esta sensacional.
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