Por: Rian Mueller - Balneário Camboriú
“Mês de novembro, 2012, foi realmente chuvoso. Daqueles períodos que atrasam projetos e deixa você com sede nos dedos. Mas, uma das primeiras lições que tive quando me machuquei e tive que ficar afastado da escalada foi: Dedicar o tempo para fazer coisas que você simplesmente procrastina quando está podendo escalar.”
Cachalote, via que nomeou o setor inteiro, fica no Morro da Aguada, este é o verdadeiro nome do contemporâneo Morro do Teleférico de Balneário Camboriú.
Devo ter conhecido esta via no ano de 1997. Porém na época, era uma via, para mim, muito forte. Lembro de naqueles anos, ir várias vezes e sempre "travar" no esticão entre a terceira e quarta proteção. Lance longo, que, se eu tivesse noção de uso e algum móvel, era ali para usa-lo.
Fui me informar sobre seus conquistadores, por pura curiosidade. Foi a primeira geração de escaladores de Balneário, Eliseu Pavesi, Fabio Santos, Marcelo Ferreira e cia. Iniciaram a conquista desta em 1993, terminando apenas em 1995.
De lá pra cá as sapatilhas viraram ventosas, mosquetões e friends ficaram mais leves e cheios de performance, cordas mais finas e maleáveis e a Cachalote, bem, essa em particular nada mudou, seu gostinho de aventura e probabilidade de bons voos atravessaram décadas.
Da mesma época é a via Estalos no Salão, um artificial de A2 bem técnico (parece até mais difícil), peças miúdas, em um teto impressionante. Quem limpa “se bate” tanto quanto quem guia.
Bem, foram muitas idas e quedas até sair o lance da Cachalote, mais tempo ainda até eu encadenar aquela via, o que deve ter acontecido em 2001 (acho). Porém, depois disso, por anos o setor ficou parado. Fecharam o morro quando o Parque Unipraias soube que escaladores “subiam as pedras”. Mas com boa conversa entre a Associação Litorânea de Escalada e Montanhismo – ALEM e o pessoal do Parque, o setor estava liberado novamente.
Pelo que lembro, em 2001, iniciei na pedra ao lado da Cachalote, uma conquista, daquelas de ir de baixo, clifs e estribos. Um presente. Comecei batendo na mão a primeira proteção, um grampo de 10mm, num negativo que hoje está graduado como 7c. "Ops, grampo está um pouco frouxo no buraco, que merda. Vamos voltar com uma chapinha para calçar". No outro final de semana estávamos lá aos pés da via para retomar os trabalhos. Me deparo com o que foi a primeira cena de falta de ética que vi, a nossa conquista foi metralhada. Estava toda grampeada, a via inteira.
Depois de alguns anos soubemos se tratar de uma pessoa que veio rapelando de cima durante a semana e foi descendo grampeando a via toda no rapel. Deixou o crux mal protegido, ignorou o inicio de conquista, (vindo de cima realmente não iria ver o furo na saída, porém fez questão de bater um grampo a 20 cm do que fiz).
Apesar de ter sido dada um nome pelo pseudo-conquistador, chamamos ela de Éticanalha, hoje liberada, proteções melhoradas para mandar em livre. 7c lindo com baita visual da cidade. Ao lado direito desta existe uma variante que pode dar um 8a, também regrampeada já.
Quando o Daniel Acruche Fernandes veio morar na cidade, deu mais um up pro setor, abrindo as Moby Dick (VIIIa) e Jubarte (faltando ainda pouco pra finalizar). Isto deve ter sido em 2007/2008.
E mais uma vez o setor ficou sem frequentadores. Trilha fechou, musgo escondeu os regletes e os espinhos tomaram conta dos espaços abertos.
Então, de acordo com inicio do meu texto, decidi num dia de chuva em novembro de 2012, pegar o facão e reabrir a trilha. Realmente bem fechada. Três dias de trabalho para deixar ela boa novamente. Tenho que agradecer a Tamara Hernandes que se dedicou também para manutenção. Com a trilha aberta era hora de limpar as vias e regrampear a Cachalote (devidamente autorizada pelo Fabio Santos).
Com o camarada José Satiro, começamos a regrampear e limpar toda primeira cordada desta. Muito musgo fez parecer que simplesmente não havia uma via ali. Na quinta proteção, meio da transversal, olhei pra cima e relembrei uma vontade antiga, de escalar uma linha natural que ia subindo o que parecia um diedro cego, que vai inclinando até virar um teto. Lá fomos nós, conquistando aquela linha que saiu no meio do trabalho em um clássico das escaladas de SC.
Com boas agarras, lances verticais, uma boa leitura fará você chegar no crux de braços relaxados. Sim, é daquelas vias que o crux está reservado para o final, das que você para logo antes do crux, respira fundo e seu corpo fica mais pesado apenas por pensar no repetir toda a via caso caia ali no finalzinho. Crux técnico, cotado como VIIc. Como quase todas as vias do setor, é justamente na “viradinha”, quando a parede fica mais positiva, que o negocio faz você ter que acreditar no pé, beliscar forte o reglete e dar uma chance ao equilíbrio. ATLÂNTICA, esse é o nome da nova via. Com visual de dar inveja a qualquer cobertura da Avenida Atlântica e fazendo também referência ao segundo maior dos oceanos e que está logo ali, basta parar naquele “agarrão” e dar uma olhadinha para traz.
Betas: Escale-a na sombra. Vá cedinho que o sol só começa a bater na parede exatamente ao meio dia, tempo de sobra para uma dupla repeti-la. Leva 15 costuras (4 delas de 60cm) e mais Camalots #.75 #1 e #2. Uma boa cordada de 40 metros. Com uma corda de 60 metros você chega no chão num rapel só, vai por mim.
Setor é lindo, vias de excelente qualidade e que exigem boa concentração para as cadenas. Melhor visual da cidade com certeza é da metade das suas cordadas, não tem igual.
A trilha está bem marcada e aberta, não precisa retirar nem cortar nada. O lugar é lindo e seria legal sempre voltarmos trazendo um lixinho que os "amigos" turistas deixam "cair" do mirante lá na base da via.
Divirtam-se =D
2 comentários:
Irado!
Saudades da via...
e da galera...
Eliseu Pascoal Pavesi
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