Recentemente foi finalizada uma nova via no Morro da Cruz em São Chico, trata-se da via Pumbélha, que foi aberta por Alecsandro Urbano e Felippe Karvat. Aproveitando os bons ventos que chegaram junto com a mudança da estação, aproveitei pra conhecer a nova via, pra mim sempre uma grande satisfação poder subir algo novo no morro, ainda mais aberta por amigos que tive o prazer de ensinar através dos meus cursos.
1. Vó Laudi 2. PUMBÉLHA 3. Penélope
São duas enfiadas bem divertidas, a primeira mais curta com uma passada de 7a e a segunda mais longa, com 35 metros, também 7a só que mais constante e vertical. A via ainda segue pra uma terceira enfiada, porém como é um trecho bem liso, optou-se por finalizar a via por ali mesmo, pelo menos temporariamente para melhor avaliação. Pra descer com uma corda de 60m melhor ir pela via Penélope, que localiza-se a direita. A graduação sugerida é: 6. VIIa E2 , assim que a via receber novas repetições poderá ser ajustado.
Como acompanhei todo o processo dessa conquista, além do prazer em fazer a primeira repetição, posso descrever e compartilhar alguns pontos que julgo importantes. A equipe buscou informações, sugestões e capacitação, escolheram a linha e aplicaram o estilo de aventura predominante no morro. Vieram de baixo na ponta da corda descobrindo cada passada, algumas em livre, outras em artificial. Aproveitaram as fendas e buracos, característicos dessa parede, para proteger os lances com equipamentos móveis. Deixaram uma boa distância entre as outras vias existentes para não descaracteriza-las. Tiveram também momentos de dúvidas, pra decidir a direção a seguir, procurando a linha natural ou qual técnica usar, seguir em livre ou subir nos clifs, furar ou não, onde bater a proteção... Dúvidas tipicas de abertura de vias, que surgem somente no momento da ação, do fazer acontecer, que nos permite adquirir experiencia, para uma das mais interessantes facetas do esporte, subir por itinerários inéditos. Como resultado, posso afirmar que foi uma ascensão muito bem feita, sem dúvida mais uma excelente via pra testar e aprimorar nossas qualidades como escaladores.
Finalzinho da primeira enfiada.
Mais sobre as vias do Morro da Cruz clique aqui. Em breve mais informações na segunda edição do Guia de Escaladas em Rocha de São Francisco do Sul.
Rafael Alchieri provando o Gravidade Zero V4 - Setor Floresta
Localizado praticamente no centro da cidade de Joinville o Parque Municipal Morro do Finder sempre foi um setor bastante frequentado, principalmente a Pedra do Veloso, que tem várias vias esportivas e o setor da Gruta, que conta com vários boulders. Ambos os setores desenvolvidos no final dos anos 90.
Recentemente comentei com a galera, que em uma ocasião explorando a floresta do Parque eu havia encontrado uns blocos interessantes, mas que na época (começo dos anos 2000) não me motivei em limpar e abrir os lances.
Boulder Unha de Gato V2 - Setor Floresta
Com uma "nova geração" de escaladores motivados, fomos a procura desse setor e pra alegria geral os blocos eram MUITO melhores do que se esperava.
Rapidamente começaram os trabalhos de limpeza e abertura dos boulders. O mato que tomava conta dos blocos foi retirado, as bases foram arrumadas, bromélias e orquídeas foram retiradas e colocadas nas proximidades. Os espinhos e trepadeiras, comuns desse ambiente de mata secundária, foram retirados e deram um novo ânimo pra floresta crescer.
O setor foi denominado de Floresta e se localiza na encosta logo abaixo do setor principal. A rocha é a mesma encontrada em outros blocos, um quartizito de excelente qualidade e com muitas agarras. A maioria dos boulders são negativos e tetos, tornando a escalada bem específica e difícil. Foram abertos aproximadamente 8 lances e há muita coisa boa e difícil ainda pra abrir.
Edwil James no boulder Imaginésio V3
Os principais responsáveis pelo "trabalho" realizado nesse novo setor e as primeiras ascensões foram, Rafael Alchieri, Edwil James, Alecsandro Urbano, Guido Gelbcke, Christine Mender, Jader Rampinelli e Daniel Casas.
Para conferir o croqui completo dos novos boulders e dos setores "antigos" de um clique aqui. Para saber mais sobre o setor clique aqui.
IMPORTANTE
- Mantenha o ambiente como encontrou.
- Utilize os acessos já abertos.
- Para abertura de novos blocos e linhas utilize as técnicas de mínimo impacto, retirando a vegetação onde é estritamente necessário e realocando sempre que possível.
- Não cave agarras.
- Em caso de novas ascensões comunique a galera local para registrar as informações.
Todos são bem vindos à se divertir e abrir novos lances!!!
Escalar essas montanhas é buscar mais que um cume, é uma oportunidade de ir ao encontro do equilíbrio físico e mental, conectar ao momento presente e por fim viver nossos sonhos.
Pico Maior ao centro, picos Menor e Médio a esquerda e Capacete a direita
Um dos principais centros de escalada em grandes paredes do Brasil é com certeza o conjunto de montanhas do Parque Estadual dos Três Picos, em Nova Friburgo/RJ, ou simplesmente Salinas. Foram nessas paredes, onde escaladores como Tartari, Portela, Hartmann, entre outros, forjaram um estilo de escalada arrojada e moderna, buscando sempre uma escalada limpa, minimizando os pontos de apoio, empurrando o limite vigente e dando novas referências para o montanhismo brasileiro.
Subir por essas paredes é "beber da fonte" da escalada tradicional brasileira, montanhas de rocha nua, metros e metros de escalada, técnicas variadas, cumes onde não se chega andando.
Pico Maior
Os Picos Maior, Menor e Médio junto com Capacete e a Caixa de Fósforos, são as montanhas mais frequentadas da região e onde se concentram o maior número de vias. Nas palavras de Portela "Tem de tudo. Nem pra todos. Tem bloco e falésia, parede pequena e grande. Fácil, difícil e imponente. De rocha pura ou com muita vida e sempre com muita aventura." Vias com 10 ou mais cordadas são comuns, a rocha predominante é um granito/gnaisse de excelente textura, sólido e aderente. Uma das principais características do local é a distância entre as proteções, lances longos sem ver o próximo grampo são comuns. A grande maioria das vias possui o grau de exposição E3 ou maior, ou seja, escaladas com certo comprometimento, onde uma queda pode gerar um acidente. Porém devido a qualidade da rocha esse "detalhe" pode até passar despercebido depois que se acostuma ao estilo.
Um "mar de granito" com suas infinitas possibilidades de subida.
Filipe Rochi na parte alta da via Fata Morgana no Capacete
Essa foi uma viagem de última hora, não estava nos meus planos pra temporada, porém era um destino que sempre tive vontade de voltar, para aprender e me testar.
Em outra ocasião já havia subido o Pico Maior pelas vias Leste e Decadence, ainda lembro do contraste que foram essas duas escaladas - aventura plena e puro desfrute - tínhamos pouca informação e nunca escalado nessas montanhas. A primeira foi a Leste, entramos apreensivos e focados, já de cara sentimos na pele o estilo arrojado dessas paredes, choveu nas últimas cordadas e mesmo assim seguimos adiante, fizemos cume e sem perder tempo achamos os rapeis com visibilidade mínima, com forte chuva chegamos de dia e felizes ao acampamento. Dias de descanso e foi a vez da Decadence, na mesma face e praticamente o mesmo tamanho da Leste, 700 metros de "pura roca". A escalada foi puro desfrute em um dia de sol e sem vento. Já habituados ao estilo, fomos rápidos, subimos parte da via em simultâneo. Em 5 horas já estávamos sobre as pedras do cume aproveitando o sol, sentindo o vento e tentando entender, junto ao turbilhão de emoções que invadem nossas mentes, as motivações que nos levam a momentos tão plenos.
A vida segue e me leva mais uma vez onde quero estar: aos pés da parede mirando a linha da próxima aventura. A "bola da vez" seria a via Arco da Velha (D4 6. VIIa E3). Sinto um irresistível magnetismo em testar minhas qualidades como montanhista em uma parede tão imponente e por uma via que quebrou paradigmas em seu tempo!
Como seria uma viagem de poucos dias pra tanta rocha, tracei um cronograma objetivo em minha mente: duas vias pra aquecer no Capacete, um dia de descanso e então a Arco da Velha.
Face norte do Capacete e Pico Maior a esquerda.
Cume do Capacete e Pico Maior ao por do sol
Com Reginaldo e Urbano subi a via El Kabong (D3 5. VI E2 450m), uma boa escalada que fica mais interessante após as três primeiras cordadas, onde a parede fica mais vertical. Boa para entrar no ritmo e se adaptar a rocha sem se expor demais. Depois foi a vez dos 400 metros da Sólidas Ilusões (D3 5° VI+E3), uma clássica e super bem recomendada. Uma cordada melhor que a outra, técnicas variadas mesclando proteções fixas e móveis. É boa para "entrar no clima" e começar a se acostumar com lances menos protegidos.
Urbano nas últimas cordadas da via Pança do Mamute onde a Kabong se junta.
Caon no final da Sólidas, lá embaixo no descampado a área de camping
Entrando do diedro da 3. cordada da via Sólidas Ilusões
Um dia de descanso pelo vale pra ficar de preguiça, aproveitar o sol e se preparar pra escalada. O corpo relaxa, mas a mente cada vez mais ansiosa com o passar das horas. Ronchi e Regi estão na Leste, vamos a um mirante e acompanhamos os últimos metros da escalada, pequenos pontos perdidos no granito. Em pouco tempo pisaram no cume e pudemos escutar seus gritos ao longe e sentir a vibração positiva. Nessa hora do dia o vento já tinha mudado de direção e soprava com força, trazendo muitas nuvens, o tempo parecia virar. Acordamos as 4 da manhã, noite estrelada, um rápido café e sob as luzes de nossas lanternas frontais, seguimos a passos decididos nosso caminho. Chegamos na base clareando o dia e quando o sol surgiu no horizonte já estávamos avançando na primeira parte da via, mais fácil e positiva.
Minutos antes do sol despontar no horizonte
Tocando na parede junto com os primeiros raios de sol.
O tempo ainda parecia suspeito no começo da manhã, mas com o avançar do dia e a medida que ganhávamos altura foi se estabilizando e seguiu perfeito, com temperatura agradável e pouco vento.
Rafael Caon iniciando a 4. cordada.
Na segunda parte da via, a parede ganha verticalidade e mostra todo seu encanto, boas agarras e lances longos com poucas possibilidades de colocações móveis. Frito minha cabeça, mantenho o foco e me divirto na busca pelo melhor caminho. Como as proteções são distantes e as possibilidades de caminhos muitas, achar a sequência de agarras certas que me levarão a um "porto seguro" é a parte mais difícil e também a mais interessante. Ir passo a passo, com cautela pra não entrar em "xeque mate" impossibilitando a subida ou a descida, faz com que meus sentidos mantenham-se atentos. Sigo em uma mistura de transe e êxtase, me equilibrando na vertical, meus pensamentos voltados exclusivamente para o momento presente, focado em resolver cada passada com maestria. O tempo parece parar.
Sétima cordada
Urbano liderando a 8. cordada.
Nosso ritmo é bom e logo chegamos em uma cordada chave, que consiste em um teto com agarras. Um lance de VI, mas o número é apenas um parâmetro e não representa a real dificuldade em fazer a passada. Lá no alto da parede, protegido com pequenas peças, sentindo o vazio, tudo fica mais complexo. Demoro um tanto pra passar o lance, vou e volto, negociando com as agarras, enfim decido e com atitude escalo sem medo. Mais alguns metros e melhor protegido sigo até a corda praticamente acabar e monto a parada.
10. cordada da via Arco da Velha
Desse ponto em diante sabemos que estamos com o jogo praticamente ganho, faltam apenas 4 cordadas e então baixamos o ritmo, um tanto pelo cansaço e um pouco para desfrutar dessa bela escalada. Mas a montanha não perde verticalidade e precisamos seguir apertando com força e pisando certo nas agarras. Na parte final juntamos na Decadence e seguimos por ela até o cume em tempo de apreciar o por do sol.
Cume Pico Maior
Tão raro esses momentos de cume, sensações que não podem ser racionalizadas, muito menos descritas, devem ser experimentadas.
Não nos demoramos muito no cume e logo partimos em busca da descida. Saio abrindo os rapeis, e um a um vamos perdendo altura e nos aproximando do colo com o Capacete. Já é noite escura e no último rapel me perco e acabado entrando em uma grota, ao menos estava no chão. Meus parceiros, sem muita escolha me seguem, traço uma linha reta e rasgamos o mato até achar a trilha que nos leva pra junto do calor do fogão a lenha.
"...no meio da pedra tinha um caminho..." Via Arco da Velha
Os dias vão passando rápido, amigos chegando e outros indo, cada qual com seus objetivos. O tempo segue firme e após algum descanso, trivialidades, ócios e devaneios a motivação volta. Ainda subimos as vias Fata Morgana e Roberta Groba no Capacete, pra encerrar essa rica temporada!
Aos amigos com quem pude compartilhar esses dias na montanha, muito obrigado!
Cume do Capacete
Pra finalizar um pequeno clip no melhor Jamaica Style!!!
Apoio: Jurapê Equipamentos para Aventura, Resseg Mountain Wear, Hard Adventure e Salamandra Escola de Montanha.
AS EXPERIÊNCIAS DE QUEM OUSOU TRILHA O SEU CAMINHO, essa é a chamada do FESTIVAL DA MONTANHA que reunirá entre os dias 24, 25 e 26 de julho praticantes e simpatizantes de diversas atividades de montanha, tudo aos pés da belíssima Serra Geral Catarinense no município de Siderópolis.
Mostra de filmes, fotográfica e palestras vão contar um pouco da história de caminhantes, montanhistas e escaladores da região.
Durante todo evento irão acontecer diversas atividades como caminhadas, slackline,stand up padle, mountain bike, cavalgadas e escaladas.
Um evento ao ar livre para toda família.
PROGRAMAÇÃO FESTIVAL DA MONTANHA:
24 de Julho – Sexta-feira
Horário: 19h30min
Recepção e Abertura
Mostra: Vídeo Rotas do Aguaí
25 de Julho – Sábado
8 horas - início das atividades
Caminhada – O Guarani – Caminhada até a Casa de Cerimônias Guarani – 15km ida e volta nível fácil
Pedal - aproximadamente 50 km – nível intermediário, saindo da base em direção a Treviso, com almoço na Pousada Santo Antonio (por adesão R$ 25,00) – totalmente em estrada de chão
Slackline - Equipe Pés na Fita e Cabeça na Escola – Demonstração e Instrução
Stand Up Padle - Equipe Aloha - Barragem do Rio São Bento
Escalada Setor Serrinha
Cavalgada – Fazenda São Lourenço
(atividades devem ser agendadas via Ficha de Inscrição – valores incluídos na inscrição)
Podem haver alterações ou exclusão de atividades conforme números de inscritos.
18 horas
ENCONTRO ENTRE HOMENS E MONTANHAS:
Daniel Casas - Arte Vertical: Conceito do montanhismo e suas modalidades.
Rafael Caon- Gelo Patagônico Sul
Edemilson Padilha – A conquista da via “Fio na Navalha” como abrir uma via de 700 metros, numa parede com pouquíssimas informações.
20h30min – Mostra: Video Memórias de São Pedro – Conversa Júnior e Michele
26 de Jullho - domingo
8 horas
Escalada Morro da Mina – uma das maiores vias de escalada em arenito do Brasil, com Daniel Casas, Rafael Caon, Edemilson Padilha e Filipe Ronchi
Cobertura: RBS TV
Caminhada até a Gruta – 11km ida e volta com vista panorâmica da Barragem do Rio São Bento
Pedal até Instituto Felinos do Aguaí – 18 km ida e volta, aproximadamente
Previsão de término das atividades e retorno à base até 13 horas.
Mostra de fotos espaço permanente.
Filipe Ronchi na via Excrescência, uma das preciosidades da Serra Geral
Aventurem-se com segurança.
Confiram a agenda de cursos da Salamandra Escola de Montanha.
Instrutores CREDENCIADOS em Joinville e região EXCLUSIVIDADE Salamandra.
Guiando desde 2001.